quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Novos Começos

Queridos e queridas,

minha vontade era ter escrito para vocês antes do Natal, mas a correria foi tanta que não consegui. Assim, escrevo agora, esperando que vocês tenham tido um Natal muito tranquilo e gostoso.

Eu queria ter escrito antes do Natal principalmente porque, para mim, este Natal teve um significado especial. Sendo a celebração de um nascimento, este Natal foi o primeiro em que pude agradecer e celebrar pela vida do meu pequeno (já não tão pequeno) filho. Ele ainda não é capaz de entender, nos seus dois meses e meio, mas sei que um dos presentes que ele veio me trazer certamente é este reencanto de rituais e tradições que - no passar dos anos - infelizmente vão se tornando repetições do mesmo. Quando há crianças por perto, porém, a história é outra: a família reunida em torno delas ganha de presente essa graça de enxergar as coisas pela primeira vez.

Desde que li "Perto do Coração Selvagem", da Clarice, apenas um trecho me assombrava vez-em-quando. É assim: "Eu me sinto segurando uma criança, pensou Joana. Dorme, meu filho, dorme, eu lhe digo. O filho é morno e eu estou triste. Mas é a tristeza da felicidade, esse apaziguamento e suficiência que deixam o rosto plácido, longínquo. E quando meu filho me toca não me rouba pensamento como os outros. Mas depois, quando eu lhe der leite com estes seios frágeis e bonitos, meu filho crescerá de minha força e me esmagará com sua vida. Ele se distanciará de mim e eu serei a velha mãe inútil. Não me sentirei burlada. Mas vencida apenas e direi: eu nada sei, posso parir um filho e nada sei. Deus receberá minha humildade e dirá: pude parir um mundo e nada sei. (...) Meu filho se moverá em meus braços e eu me direi: Joana, Joana, isso é bom. Não pronunciarei outra palavra porque a verdade será o que agradar aos meus braços".

Talvez porque pouco depois minha sobrinha tenha nascido e essa "verdade de carne" tenha ficado impressa em meus próprios braços, talvez pela beleza e simplicidade da forma que a Clarice encontrou para dizer da maternidade, esse trecho volta e meia vinha à minha cabeça. E depois que o Rodrigo nasceu, várias vezes me assusta essa mesma constatação: pude parir um filho e nada sei. Me assusta e me traz paz, ao mesmo tempo - me liberta da necessidade de saber ou pôr em palavras aquilo que vou aprendendo; me torna possível experimentar a vida de outro jeito: mais um presente que o Rodrigo me dá.

Então, meu desejo de Natal e de ano novo é que cada um de vocês também encontre momentos-pessoas-experiências que lhes deixe marcado na alma e no corpo essa plenitude das verdades que não precisam ser postas em palavras e essa imensa de liberdade de, não sabendo, simplesmente viver.

Beijos carinhosos,

Fabiana

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