Versão Férias

São tantas, que nem estou dando conta de registrar (mesmo que mentalmente). Vamos ver se consigo pelo menos algumas.

Rodrigo ganhou o tão esperado Buzz Lightyear de Natal e também uma fantasia de Batman que já aprendeu a andar sozinha! Fomos para um hotel, com minha mãe, meu padrasto, minha irmã, meu cunhado, meus sobrinhos, e nós cinco aqui. To-dos os dias o Rodrigo se vestiu de Batman. Só tirava a fantasia para ir nadar :-)

Quando ele abriu o presente (dado pela vó Lúcia e o tio Fábio), ficou feliz da vida! E já colocou a fantasia. Depois de muito voar pelo corredor e na frente do espelho (para ver a capa flutuar...), veio comentar comigo que a fantasia era de manga curta (a do Homem-aranha é de manga e perna compridas). Disse que sim, e que por isso mesmo ele poderia usá-la para ir à escola em dias quentes. Ele deu o sorriso mais querido do mundo, bateu palmas e gritou: "êêêêêê!"

Lá no hotel, ele e o primo aprontaram bastante. Numa das vezes, fui dar bronca:
- Rô, agora chega!
- Mas mãe, eu já cheguei!

Em outra, pedi para eles ficarem dentro do restaurante enquanto terminávamos de jantar:
- vocês dois, podem entrar já!
- mas, mãe, a gente quer brincar porque ontem a gente não brincou (de fato, no dia anterior estava chovendo)...
Pode?

Num café da manhã, ele veio no caminho do quarto ao restaurante me contando a história da "mussalela". E eu, sem entender nada, né? Estava lá, terminando o café, e ele me chamou:
- vem, mãe, vem ver a "mussalela"
Lá fui eu. Aí, ele aponta um inseto no chão e mostra:
- tá vendo, mãe? a "mussalela"? Ela tá morrida. Os tios morreram ela.
De fato, lá estava, morta, uma...libélula. Nunca que eu ia adivinhar!

Na última noite, ele saiu do salão para encontrar o primo e o avô e, não os encontrando, resolveu ir na direção dos quartos. Para isso, ele subiu um escada bem alta (sozinho. me arrepio só de pensar). Sorte que a irmã dele estava lendo do lado de fora do quarto e o viu:
- Rô, onde você vai?
- Vou encontrar o vovô.
Ela o levou até o quarto dele, mas ninguém estava lá. Então ela se lembrou:
- Rô, o vovô não estava lá embaixo?
À medida em que se aproximavam do salão, a Bia ouviu um monte de gente gritando: "Rodriiigo. Rodrigooo!". O ser tinha fugido.
Descendo as escadas para encontrar finalmente o avô, a Bia recomendou:
- não pode descer sozinho, né?
- não tem "ploblema", Bia, eu seguro no "pedalão" (mais conhecido como corrimão).

Nessa mesma noite, no meio da bagunça e depois do susto da fuga, olhei para ele tão bonito e feliz do meu lado, comendo sorvete de chocolate, e disse:
- eu amo você, sabia?
E ele sorriu bonito, me dizendo no mesmo tom:
- e eu amo você :-)

Agora há pouco, eu arrumando as malas para visitarmos a bisa, escutei uma falação:
- e aí você põe a cola, e espera secar, tá? E então, dobra assim e aí espera um pouquinho...
Isso tudo enquanto mexia em papéis, lápis etc. Só então atinei: era o Rô, Mr. Maker, em carne e osso!

Imagem: http://gamesxxx.wordpress.com/2008/08/13/novo-game-do-batman-e-anunciado/

Come-come

Agorinha mesmo, eu terminando de fazer o almoço e o Rodrigo na sala.

Olho, e o vejo roubando o último pedaço de bolo. Aviso:
- Pode comer, mas você tem que almoçar, hein?

Dali a pouco ele entra na cozinha e abre a geladeira:
- Mãe, tá doendo a minha cabeça, preciso colocar coisa gelada.
E leva uma maçã.

Enquanto isso, acabei o almoço e fui pôr a mesa. Chego na sala e vejo o Rodrigo devorando a maçã!
- Filho, você está comendo a maçã! Não era para colocar na cabeça?
O pestinha ri e coloca a maçã, comida, na cabeça.
- Não, filho! Depois de comer não dá mais pra pôr na testa, né?
Ri de novo e volta a comer a maçã...

Então noto que ele comeu também: o restinho de cereal que estava na tigela, os três pães de queijo semi-começados do lanche de ontem e a cobertura do bolo de chocolate.

Sabe quem vai almoçar sozinha hoje, né?

Mamãe Maluquinha

Dá-se o causo de que um dos livros prediletos do Rodrigo, "Chapeuzinho Amarelo", sumiu há algum tempo. A gente já procurou em todos os lugares da casa, já tentou se lembrar de onde tinha visto pela última vez, mas nada de achar o bendito.

Como essa era a história que eu ia contar para o grupo do Rô (vejam o relato aqui), acabei comprando outro na segunda-feira.

Aí ontem, conversando com o Edu, tive a impressão de ter me lembrado de levá-lo ao aniversário da Martina, no meio de novembro. Toda animada, fui contar para o Rodrigo - que já estava na cama - a novidade: "Filho, lembrei! A gente deixou o livro na casa do papai da tia Martina". Aí, ele se vira pra mim: "mãe, a gente não levou esse livro. Foi o da Galinha Xadrez, sua maluquinha!", e desatou a rir... E o pior é que ele tinha, é claro, toda razão :-) Ô memória!

Novos Começos

Queridos e queridas,

minha vontade era ter escrito para vocês antes do Natal, mas a correria foi tanta que não consegui. Assim, escrevo agora, esperando que vocês tenham tido um Natal muito tranquilo e gostoso.

Eu queria ter escrito antes do Natal principalmente porque, para mim, este Natal teve um significado especial. Sendo a celebração de um nascimento, este Natal foi o primeiro em que pude agradecer e celebrar pela vida do meu pequeno (já não tão pequeno) filho. Ele ainda não é capaz de entender, nos seus dois meses e meio, mas sei que um dos presentes que ele veio me trazer certamente é este reencanto de rituais e tradições que - no passar dos anos - infelizmente vão se tornando repetições do mesmo. Quando há crianças por perto, porém, a história é outra: a família reunida em torno delas ganha de presente essa graça de enxergar as coisas pela primeira vez.

Desde que li "Perto do Coração Selvagem", da Clarice, apenas um trecho me assombrava vez-em-quando. É assim: "Eu me sinto segurando uma criança, pensou Joana. Dorme, meu filho, dorme, eu lhe digo. O filho é morno e eu estou triste. Mas é a tristeza da felicidade, esse apaziguamento e suficiência que deixam o rosto plácido, longínquo. E quando meu filho me toca não me rouba pensamento como os outros. Mas depois, quando eu lhe der leite com estes seios frágeis e bonitos, meu filho crescerá de minha força e me esmagará com sua vida. Ele se distanciará de mim e eu serei a velha mãe inútil. Não me sentirei burlada. Mas vencida apenas e direi: eu nada sei, posso parir um filho e nada sei. Deus receberá minha humildade e dirá: pude parir um mundo e nada sei. (...) Meu filho se moverá em meus braços e eu me direi: Joana, Joana, isso é bom. Não pronunciarei outra palavra porque a verdade será o que agradar aos meus braços".

Talvez porque pouco depois minha sobrinha tenha nascido e essa "verdade de carne" tenha ficado impressa em meus próprios braços, talvez pela beleza e simplicidade da forma que a Clarice encontrou para dizer da maternidade, esse trecho volta e meia vinha à minha cabeça. E depois que o Rodrigo nasceu, várias vezes me assusta essa mesma constatação: pude parir um filho e nada sei. Me assusta e me traz paz, ao mesmo tempo - me liberta da necessidade de saber ou pôr em palavras aquilo que vou aprendendo; me torna possível experimentar a vida de outro jeito: mais um presente que o Rodrigo me dá.

Então, meu desejo de Natal e de ano novo é que cada um de vocês também encontre momentos-pessoas-experiências que lhes deixe marcado na alma e no corpo essa plenitude das verdades que não precisam ser postas em palavras e essa imensa de liberdade de, não sabendo, simplesmente viver.

Beijos carinhosos,

Fabiana

...e um pouco de calma

17 de outubro de 2005
De: Edu

Pessoas queridas,
Nos desculpem o atropelo, então vamos retomar:
O RODRIGO NASCEU!
... 20 dias antes do esperado!
Apesar da pressa, ele nasceu perfeitamente bem e muito querido! A
Fabiana também está ótima, felicíssima tanto quanto eu e, é claro,
está mais linda que nunca!
Vamos aos dados: ele nasceu dia 13, às 22:04, com 3,03 kg, de parto
normalésimo, de olhos abertos e muito cabelo!
Já estamos aqui em casa, mas quem quiser conferir a carinha do Rodrigo
Akira é só conferir no link da mensagem da Fabiana, mas corrigindo, na
seção BABY, fazendo a busca por Rodrigo, nome do bebê no parâmetro e a
senha.
Temos mais fotos para escanear ou baixar, e assim que der, eu mando
mais algumas fotinhos.

Beijos a todos

Edu e Fabiana (e Rodrigo, Ju e Bia)

Emoção Demais...

16 de outubro de 2005
de: Fabiana

Queridos e queridas,

apressado e lindo, o Rodrigo chegou no dia 13 de outubro de 2005. Vocês podem vê-lo na página eletrônica do Hospital, na seção Berçário, usando a senha de acesso XXXX...

Muitos beijos,

Fabiana

Observações

Rodrigo, hoje de manhã:
- mãe, por que você dormiu de brinco?
- eu esqueci de tirar, filho.
- olha, mas antes de tomar banho, você tira o brinco porque senão estraga, hein?

Aí foi escolher a roupa:
- quero a roupa nova.
- tudo bem, pode escolher uma.
Foi na gaveta, escolheu a mais colorida e soltou:
- acho que eu vou ficar muito lindo :-)

Variadas

Rodrigo está a cada dia mais falante; inventa histórias, transforma os brinquedos em objetos de cena, canta-dança, fala em inglês (é muito engraçado: ele fica enrolando a língua e forma looongas frases).

***

Ontem, fomos entrar no carro, na garagem, e pedi para ele entrar do outro lado, porque do lado do passageiro tinha pouco espaço. Edu foi colocá-lo na cadeirinha, enquanto eu fui entrando. Aí ele me pergunta:
- mãe, por que você vai entrar desse lado?
- ah, filho, eu consigo entrar; sou uma só e sou magrela.
- não, mãe. Você é gor-di-nha. Magrelo é o papai!
Ninguém merece, viu?

***

Agora ele está com mania de recusar as coisas e os programas que oferecemos pra ele. Pra tudo que perguntamos, ele responde: "não! É feio!" ou "não! eu não gosto!". Como já ensinava o André Abujamra, o indivíduo é individual...

***

E agora, orgulho total, ele acorda, toma café e tals, mas aí vai no quarto e escolhe as roupas, incluindo cueca. Aí tira o pijama sozinho e se veste. Vocês têm noção do que é ver aquele toquinho de gente pondo roupa sozinho, orgulhoso do feito? É muito gostoso...

***

E ele continua com mania de planejar coisas para fazer quando crescer: "mãe, quando eu crescer bastante, aí eu vou ser grande, igual o papai, e aí eu vou andar de helicóptero, né? E vou dirigir. Menina não dirige, mãe, só menino. E eu vou dirigir e minha roupa vai ficar pequena e eu vou ter que comprar outra, bem grande".

***

Outro dia, nem lembro o que estávamos fazendo, e ele se virou pra mim e disse: "peraí, que vou te ensinar, tá?". E não é que ensina mesmo? Todo dia uma coisa nova. Ô coisa boa da vida!

Imagem: www.gettyimages.com

São Paulo, 8 de abril de 2005

Querido bebê,

Agora mamãe entrou na fase de testar todas as fontes do Word, para não ficar muito monótono...Se bem que esta aqui é meio duro de ler, não é?

Mamãe acordou com dor na barriga e assustada. Você ainda é pequenininho, embora já seja um super feto, e mamãe fica preocupada. Já te disse que é para você ficar aí, quietinho, só concentrado em crescer bastante e virar um bebê querido, mas você insiste em dar sustos na mamãe, só para ver se eu fico quieta junto com você...Tudo bem, bebê. Se é isso que você precisa, de carinho e silêncio, mamãe fica em casa, cuidando de você.

E ontem mamãe conheceu um menino lindo, chamado Lucas, conversador e desenhador, que comeu o pão de queijo e o tomou o suco da mamãe! Ele era uma gracinha e fiquei batendo o maior papo com ele. Ele também é misturinha e tinha os cabelos clarinhos e uns olhinhos puxados muito sapecas. Seu pai acha que você vai nascer com os olhos grandões, iguais aos da mamãe. Mas a mamãe acha que você vai ter olhos grandes e puxados, como os da família do seu pai. Mas essas coisas não têm importância. O que importa mesmo é que você nasça com saúde . Você é você desde agora, e a gente vai gostar de você. De olhos grandes ou pequenos, de cabelos escuros ou claros, com cachinhos ou sem cachinhos.

Muitas beijoquinhas,

Pro (a) filhinho (a) mais doce do mundo,

Mamãe

Ps: Ontem a vovó ligou e te mandou beijocas.

São Paulo, 5 de abril de 2005

Hoje estamos experimentando uma nova fonte, para as cartinhas não ficarem todas com a mesma cara.

Faz mais de duas semanas que a mamãe não te escreve; não por falta de vontade. É que os enjôos deram uma trégua e a mamãe foi recuperar parte do tempo, trabalhando um pouco. Além disso, nós fomos no batizado dos seus primos, teve a Páscoa – você ganhou um ovinho super fofo da tia Eli, que também foi seu primeiro presente, começaram as aulas da mamãe e, claro, você me deu dois sustos que me fizeram ficar bem mais quietinha...Mas isso é história para te contar mais tarde.

Também aconteceram coisas importantes neste meio tempo: a gente tirou suas primeiras fotos! Você saiu parecendo um grão de feijão, mas já dava para ver seu coraçãozinho batendo. A mamãe ficou chorando de alegria, de saber que você estava bem... E na semana passada você deixou de ser um embrião e já é oficialmente um feto. Você está crescendo e depois vai crescer cada vez mais rapidinho. Imagine que agora você já tem peso que pode ser expresso em gramas!

Mamãe te bordou um babador de centopéia e outro de zebrinhas; e você ganhou uns sapinhos super fofos para brincar durante o banho. Ah, esqueci de te dizer, a gente gosta de tomar banho, viu? Estou registrando porque vai chegar uma época em que você vai querer fugir do banho...Por enquanto, a gente adora, porque dá para prestar atenção em cada pedacinho da barriga que cresce e a mamãe sempre conversa com você, curtindo a água morninha.

Bom, querido, infelizmente mamãe tem que voltar pro trabalho. Está tudo super atrasado. Mas não me importo: o que me interessa agora é você ter a tranqüilidade que precisa para crescer bastante e virar o meu filhote ou a minha filhota querida.

Beijinhos na pontinha do seu nariz,

Mamãe

São Paulo, 15 de março de 2005

Querido Gohan,

Calhou da mamãe ter saído muito para trabalhar estes últimos dias e acabei ficando um tempinho sem te escrever...O que certamente não significa que eu não tenha falado com você, te contado histórias...

Hoje de manhã estava lembrando: no dia em que descobri que você estava a caminho, minha ansiedade era tanta que acordei às 6h30 da manhã em pleno sábado. Aí fui fazer o teste e voltei feliz para contar para o seu pai, que também ficou feliz mas nem por isso com menos sono...Como depois de um tempinho ele resolveu voltar a dormir, a mamãe levantou, tomou banho, começou a passar roupa e a assistir “Procurando Nemo”, que é um filme muitíssimo fofo sobre um pai peixinho e seu filhote...

Com certeza, vamos ver este filme muitas vezes porque além de muito legal, ele é muito bonito, colorido, e tem tartarugas, tubarões, águas vivas...

Ontem seu pai estava me dizendo que, como provavelmente eu vou falar com você todo o tempo – já te avisei: sou tagarela! – ou você vai ser falante ou vai ser muito quietinho. Mas pensando que além de mim, você também terá suas irmãs, acho que você não vai ter muita saída senão falar bastante. A competição é muito grande...

É isso, então, bebê. Mamãe agora vai trabalhar um pouquinho e depois nós vamos assistir aula na faculdade...

Beijos, beijos, beijos,

Mamãe

São Paulo, 9 de março de 2005

Querido bebê,

Hoje a mamãe ainda está “no Titanic”, o que significa dizer que a mamãe ainda está passando mal como se estivesse num navio em alto mar...Mas já um pouquinho melhor – por efeito do Dramin.

Resolvi escrever para você agora, pois estou aqui, na frente do computador, trabalhando e escutando algumas músicas. Algumas delas são muito antigas, da época em que a mamãe era pequena. E aí me ocorreu de te avisar que a família, no que se refere a músicas, divide-se em duas alas. Uma delas é composta pelo seu pai e pela sua irmã mais velha, e é a ala “cool” e descolada, que gosta de novidades, rocks e bandas bacanas. A outra é composta por mim, que além de curtir essas coisas, tenho um lado brega total e de vez em quando gosto mesmo é de ouvir o Roberto Carlos ou as minhas musiquinhas bregas dos anos 80, que embalaram tantas crises e bailinhos. A Júlia ainda está indefinida porque, por enquanto, ela ouve as coisas que as amigas ouvem também e o que passa na TV. Acho que ainda vai levar uns anos até ela se decidir por alguma das alas.

Mas achei que era melhor te avisar porque com certeza a mamãe vai pôr algumas dessas coisas para você ouvir...Principalmente as músicas infantis que eu ouvia quando pequena, que são infinitamente melhores do que rola por aí – à exceção do Palavra Cantada, que é muito bom e que você também vai ouvir bastante.

É isso, então, querido bebê.

Beijocas e beijinhos,

Mamãe

São Paulo, 8 de março de 2005

Querido Goham,

ontem e hoje foram os dias de maior enjôo até agora. Mamãe parece que está dentro de um navio...

Hoje é Dia Internacional da Mulher. Tinha até pensado em escrever alguma coisa, para enviar para as minhas amigas queridas. Mas estou meio sem inspiração. Além disso, ter você aqui dentro da minha barriga parece que me tira um pouco o chão do que eu imaginava que fosse ser mulher atpe agora. Acho que vou ter que aprender de novo.

Ontem tivemos visita. A Rafaela e a tia Monika vieram aqui, ver como nós estávamos. A tia Monika é uma das amigas mais queridas da mamãe e provavelmente você ainda vai conviver muito com ela.

E sabe que no fim de semana eu sonhei que você era uma menina e se chamava Bethânia? Mas, se você for um menino, não precisa se preocuar, não, pensando que a mamãe errou feio. Bethânia era uma amigona da mamãe, quando eu tinha uns 14 anos e estava na 8ª série. A gente fazia uma boa dupla....Enquanto todo mundo só pensava em namorar, eu e a Bethânia ouvíamos Mara Maravilha e brincávamos de escorregar no chão liso da escola. A mãe dela chamava a gente de Bobona e Boboca, de tanta brincadeira que a gente fazia. Era gostoso, a gente ria muito e éramos tão...crianças. Acho que foi por isso que sonhei que você se chamava Bethânia: porque vamos brincar muito juntos, fazer muitas palhaçadas, rir, ouvir música, enfim, nos divertir. Como você vê, nada a ver com prever o seu sexo.

Por hoje acho que é só.

Beijocas na pontinha do nariz,

com muito amor,

Mamãe.

São Paulo, 3 de março de 2005

Querido Goham,

hoje a mamãe foi na natação de manhã, mas você não me deixou nadar muito não: foi só nadar duas piscinas mais forte e você se rebelou e eu fiquei enjoada...Não tem problema - os enjôos fazem parte de tudo, e me dizem que está tudo correndo conforme o esperado.

A mamãe anda um pouco chata. Estou muito feliz que você está chegando, mas os hormônios! Eu fico um pouco imprevisível. Coitado do papai, que tem que aguentar.

Depois que você não estiver mais dentro da minha barriga, vai ver que seu pai é um homem maravilhoso. A mamãe sabia disso quando o viu pela primeira vez. Ele é muito inteiro e talvez por isso mesmo de vez em quando seja dado a uns silêncios. É que ele quer fazer tudo direitinho, quer dar conta de tudo e garantir o melhor para suas irmãs e para você. E nem adianta a mamãe dizer para ele que ele não está sozinho nessa tarefa de cuidar de você...

Apesar desses silêncios - que preocupam a mamãe porque sou muito tagarela -, seu pai tem outros jeitos de estar por perto. E acho que você vai aprender isso muito mais rápido do que eu. Quem sabe não é você quem vai ensiná-lo a expressar de outras formas todo esse amor e carinho que ele tem?

(Eu não deveria escrever isso para você, mas vou te contar um segredo: ensinar a viver não é uma coisa que só os pais ensinam aos filhos; quando você chegar, com seus olhinhos de recém-chegado, vai prestar atenção em coisas que talvez a gente não veja - ou porque se acostumou, ou porque nunca olhou direito mesmo. E aí, a gente vai poder descobrir o mundo de novo com você...).

Agora mamãe vai trabalhar, tá? Depois escrevo mais.

Beijos e apertões,

Fabiana

Imagem: www.gettyimages.com.br

São Paulo, 1 de março de 2005

Querido Goham,

faz apenas alguns dias desde que descobrimos que você estava chegando para fazer parte das nossas vidas. Pouquíssimos dias, aliás, apenas 3. Ainda assim, como gosto de escrever e como seu que as palavras podem ser presentes e expressão de carinho - fazendo o carinho perdurar indefinidamente -, resolvi te escrever.

Antes de mais nada, é preciso te dizer que você não vai realmente se chamar Goham. É só porque neste momento, você é menor do que um grão de arroz; na verdade, você é um amontoadinho de célulazinhas, todas juntinhas, como o goham...É também porque a sua mãe tem uma ânsia de pôr nome nas coisas, para entendê-las e amá-las melhor, e isso não seria diferente com uma criaturinha tão querida como você.

Você está chegando numa família que já não é muito pequena - você terá duas irmãs, quatro primos (um deles, o D., é o mais perto de você), além de avós, tios, a Sofia (que é o gerbil aqui de casa e também a razão pela qual você não se chamará Sofia se voc~e for uma menina), e mais um monte de amigos muito queridos que, com certeza, também farão parte da sua vida.

Por enquanto é isso. Espero continuar escrevendo para você bastante tempo. É um jeito de me convencer de que você existe, está aqui, na minha barriga que bem começou a crescer... Quando você for maior, quanto tiver que entender e enfrentar seus próprios problemas, provavelmente escreverei para você também. Daí não mais para me convencer de que você existe, mas para - como fazem as mães - te ajudar a existir com calma.

Muitos beijinhos,

sua mãe, Fabiana

Início

De: Edu
10/03/2005
Assunto: Um grão de arroz

Pessoas queridas, tudo bom?
Saudades de todos!

Vamos direto à grande notícia: Fabiana e eu estamos grávidos!!!! GRÁVIDOS!!!
Gravidíssimos. Com enjôos e tudo o mais que temos direito. Inclui
aflições e esperanças e felicidades e planos e trapalhadas todas...
... se as contas todas estiverem certas, no comecinho de novembro o
nosso filho ou filha estará chegando para ser nossa mais preciosa
alegria.
... sei lá, gostaria de mandar uma mensagem pra criaturinha pra dizer
que ele não se preocupe com esse mundão maluco, pois a mamãe e o papai
tem um monte de amigos queridos que espero vão torcer por ele desde
agora, desde quando ele só tem o tamanho de um grão de arroz!
... e é por isso que a Fabiana chama o nenê de Goham... (é, arroz em japa...)!
... a Ju e a Bia estão felicíssimas por terem irmãozinho(a)... e nem
vou falar das avós!

Mas é ao ver a Fabiana iluminada é que eu me sinto capaz de bancar
essa parada. Brincando. Com um pé amarrado nas costas. Quando eu olho
pra ela eu acho que eu fico tão feliz que acho que eu vou ser marido e
pai só por amor à arte. A delicada arte de vivermos junto.

Pessoas, espero ver todos em breve. Aguardem novas notícias.
Beijos a todos

Edu