segunda-feira, 8 de junho de 2009

21 de abril de 2008

A paixão de conhecer o mundo


Feriados prolongados com chuva, frio e criança pequena podem ser bem cansativos. Ainda mais se a criança em questão saiu de uma doença chatinha que a deixou cheia de açucar e mimos...
Mas por outro lado, essa convivência mais intensiva é tão gostosa. Especialmente porque dá para acompanhar nas coisas mais pequenininhas o quanto o está crescendo.

O título do post é o nome de um livro da Madalena Freire. Eu li pela primeira vez há mais de doze anos, enquanto fazia magistério, e fiquei encantada. Para mim, moça do interior, que lidava com uma realidade completamente diferente nos meus estágios, foi uma grande alegria conhecer de maneira tão concreta outra maneira de educar, ainda mais crianças tão pequeninas.
E o termo que ela usa "paixão de conhecer o mundo" ficou sendo para mim o jeito mais preciso de dizer da relação com o conhecimento que uma escola deveria ser capaz de despertar em seus alunos.

O tempo passou e eu nunca cheguei a trabalhar com educação infantil. Logo que tinha terminado o magistério, não me sentia nem um pouco segura para trabalhar com criança pequena, mesmo tendo certeza que eles aprendem "apesar" da gente. Para mim, esses momentos tão fundamentais (As Etapas Decisivas da Infância, de que fala a Françoise Dolto) tinham que ser vividos junto a professores mais experientes e não junto a uma moleca de 18 anos, sem maturidade, sem repertório...

Mas a vida dá voltas e quando já estava quase terminando a faculdade, o primeiro trabalho que fui fazer foi de educação - educação no trabalho, com cooperados de uma cooperativa cheia de ambigüidades, num intenso processo vivido com mais 7 pessoas maravilhosas e sob supervisão da Fátima Freire Dowbor. Daquelas experiências transformadoras, que certamente ecoa até hoje na minha prática e reflexão. E uma experiência que também me ajudou a refazer meus laços com a educação, com essa responsabilidade tão imensa de conduzir um processo junto com um grupo de pessoas (crianças ou não).

Depois que o Rodrigo nasceu, passei para o outro lado da escola - não mais como educadora, mas como mãe. O Rodrigo ficou em um berçário dos quatro meses até pouco mais de um ano. Quando ele começou a se mover, a compreender melhor as coisas, resolvemos mudá-lo de escola. O berçário em que ele estava tinha umas coisas - comuns em grande parte das escolas infantis, mas que mesmo assim - me incomodavam. As principais eram deixar que as crianças chamassem as professoras de tia e colocar Xuxa para as crianças ouvirem. O Edu diz que é chatice minha, mas eu lia essas coisas como indicadores de que se tratava de uma prática sem reflexão. E como raios prática sem reflexão poderia levar à paixão de conhecer o mundo?

Procuramos algumas escolas e, por sorte, encontramos uma bem pertinho, que tinha um espaço amplo e gostoso e profissionais bem preparados. Foi a melhor coisa que fizemos, mudar o para essa escola.

No ano passado, que o estava no G1, a gente já percebia como o gostava e se encantava com as coisas que ia aprendendo. Tão pequenininho e ele se envolvia com os temas, as histórias, as brincadeiras...E esse ano, em que ele já fala pelos cotovelos, dá para perceber como o experimentar nessa fase se liga à imitação, ao esforço de compreender as sensações do outro, os significados do que se diz e como se diz. Acho um barato.

Porque de um lado tem essa descoberta das sensações e sentimentos - e aí o trabalho nosso e da escola de ajudá-lo a nomear essas coisas - e tem a descoberta do próprio mundo - as músicas, brincadeiras, bichos, livros, linguagens. É tão bacana. Em vários momentos me pego boquiaberta diante desse olhar curioso que ele tem para a vida. É claro que é coisa de criança, mas para mim também é clara a influência que a escola e as pessoas que nela estão tem para a maneira com que isso se expressa. Olho pro e sinto que ele é livre, que ele já tem algumas ferramentas para se colocar no mundo: ele já está no mundo. E me leva pela mão com ele, para eu ensiná-lo, para ele me ensinar.

O que mais pode querer uma mãe?

Fonte da imagem: http://jardimdaalegria.blogspot.com/2007/03/educao-infantil-artes-pequenos-artistas.html

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