sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pra distrair Agosto...


... a gente leva o filho pra cortar o cabelo, caminha com ele de mãos dadas pelas ruas, enche o coração de tanto olhar a pessoinha querida crescendo, senta no balcão da padaria pra dividir com ele um chocolate quente e de uma só vez, ganha dois presentes: um beijo na mão, roubado pelo filho, e um olhar raso de lágrimas da moça que está ao lado, observando que "carinho assim, é coisa de criança amada". E nem Agosto resiste diante de tanta ternura...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Bruxinho


Rodrigo, chegando em casa e ordenando ao portão automático da garagem:
- Abre-te Vila Sésamo!

Imagem: www.gettyimages.com.br

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Descobertas

Há umas duas semanas, Rodrigo trouxe da biblioteca circulante da escola um livro chamado "Agora é a minha vez", escrito por Zeca Sampaio. E ele adorou a história! Contamos e recontamos uma porção de vezes. Ele gostou tanto que tive que prometer que ia comprar pra ele, na próxima vez que fossemos à livraria. Então, domingo, lá fomos nós.

O mais engraçado foi o serzinho, perguntando para as atendentes se tinha 'o libo do fango xadez". Só que esse nem era o nome do livro, aí ficamos os dois, pensando é "agora é sua vez" ou "agora é minha vez". Aí, mal ele viu a imagem no computador, já ficou feliz de ver que era aquele mesmo...

Na história, tem um frango xadrez, que vive a ciscar... E o Rodrigo ficava me dizendo que o frango não andava, que ele ficava na panela. Aí, deu-se o seguinte diálogo:
- mãe, o frango não anda.
- claro que anda, Rô. Olha aqui os pezinhos dele.
- mãe: frango não anda. Ele fica na panela.
- Filho: mamãe vai contar uma coisa pra você. O frango que vai pra panela, já foi vivo e andante. Aí, alguém pegou ele, matou e cozinhou.
- É? E pegou o frango? E aí o pintinho ficou "unhé, unhé" (fazendo cara de choro).
- Pois é, filho. Por isso é que eu não como carne.
- Eu também não, mãe.
- é, filho? Achei que você gostava um pouquinho.
- Eu gosto. Eu como a carninha, nham, nham, nham... (fazendo cara de quem está degustando algo muito bom).
Conversa doida...

E depois que fizemos foundue pra ele experimentar, todo dia o menino vem com o papo de que quer comer "queijo cozido"! Ótima definição... De desmascarar qualquer pretensão de chiqueza...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Vampiros

Rodrigo na sala, desenhando na lousa branca:

- Vem ver, mãe, o meu vampiro!
- Puxa, filho, que assustador... Tô com medo!
- Não, mãe. Ele é bonitinho.
- Ele é o Ivan (como o Ivan Piro, do filme da Turma da Mônica)?
- Não, mãe. Ele é moderno.
- Moderno? Ele é um vampiro moderno?
- É, mãe. Sabe o que é moderno? É que ele morde...

Vampiros mordernos... Essa é nova...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

17 de julho de 2008

Papos

Rô ontem, na padaria, fazendo graça para uma senhora que estava do lado de fora, com uma criança cuja blusa era de flanela e de bichinhos:
- Olha, mãe, ele está de pijama! Viu? Rárárá...

Ainda na padaria:
- Mãe, você tem olho azul!
- Não, Rô, meu olho é castanho.
- É azul. E o meu é azul, igual o seu.
- Rô, o nosso olho é castanho, filho.
(Nervoso): - É A-ZUL!
- Rodrigo, já não te basta ser japonês loiro, agora você também quer ter olho azul?
- Mas meu olho é A-ZUL! A-ZUL de japonês...

Com a irmã, assistindo o desenho do Batman:
- Bia, eu não estou gostando mais desse. Eu PRECISO assistir "Vida de Inseto", combinado? (fazendo sinal de "jóia").

Edu pergunta se ele quer bolo, no café da manhã:
- Eu não gosto de bolo porque sou o homem-aranha.

Dá um tapa na Júlia:
- Ai, Rô, por que você fez isso?
- Porque eu sou o homem-aranha-nunca-bate-só-apanha!

Querendo subir no beliche, para acordar a irmã:
- Bia, vou subir.
- Toma cuidado, senão você cai.
- Não! Eu sou o homem-aranha e tenho pelinhos na ponta do dedo para grudar...

- Mãe. Eu vou ficar aqui, trabalhando com você (pegando lápis e papel e sentando na cadeira ao lado do computador; isso depois de tentar trancar a porta da cozinha, para eu não poder chegar no escritório e ser obrigada a ficar com ele na sala).

10 de julho de 2008

Alquimia

Saldo da manhã:

- um bolo de chocolate
- pão integral feito em casa
- suflê de espinafre
- casa com cheirinho de comida
- mãos e corações quentinhos
- filhote dormindo depois de tudo esparramado e feliz.

2 de julho de 2008

Coração Roubado

Como ainda na segunda o Rô estava de febre, hoje fomos levá-lo na médica. Depois da consulta, fomos caminhando até a farmácia homeopática, para já mandar fazer o remédio dele.

No caminho, Rodrigo arrancou uma folhinha que estava sob a pintura de um muro. Olhou e exclamou: "- Olha, mãe! É um coração!". E colocou a folha sobre o coração, todo lindo.

Aí resolveu guardar para não perder a folha e percebeu que seu bolso era pouco confiável. Disse a ele que guardaria na minha bolsa, já pegando a folha. Pra quê? O menino ficou bravo.

- "Mãe, você roubou meu coração!"

Roubei...Mas se roubei, Rodrigo, foi porque, foi porque te quero bem.

30 de junho de 2008

Rodriguices

Rodrigo doente no meu colo enquanto eu tento (e "tento" seria a palavra fundamental aqui) trabalhar. E eu trabalhando e ouvindo Audioslave - no youtube, por favor, que o dia não tá fácil e dar uma olhadinha no Chris Cornell nunca é demais:
- Mãe, não pode ver o Cris Comél!

E tendo um telefone tão perto do computador, agora o monstrinho aprendeu a discar vários números, só para ouvir a voz na telefonista dizendo que "este número não existe" e que é melhor consultar uma lista telefônica...

Eu mereço!

Cantem comigo: "To be yourself is all that you can do..."

5 de junho de 2008

Mãe Monstro


Rodrigo parece estar descobrindo a raiva: reclama quando é contrariado, tenta bater e chutar, atira as coisas ao longe. Uma delícia... A gente às vezes briga, às vezes põe de castigo (não ele, mas o filme predileto, o brinquedo querido), às vezes tenta conversar com ele a ajudá-lo a entender o que está acontecendo.

De umas semanas para cá, ele cismou com a história Quando Mamãe virou um Monstro (Joanna Harrison, BrinqueBook).

Pede para contar várias vezes e, depois que terminamos, começa a contar ele mesmo, com ênfase nos detalhes mais deliciosos: - E então...ela soltava fumaça, e fogo e um urro terrííível...E ele adora a parte em que ela esquece de tirar o cabelo de monstro e quase atende a porta toda descabelada.

Um dia, enquanto lia, comentei que de vez em quando eu também virava um monstro. Ao que ele, em toda a sua sabedoria, respondeu: - Eu também virei, mamãe! E o papai, e a Júlia e a Bia...

Moral da história: todo mundo de vez em quando vira monstro. Com pés, orelha, cabelo e rabão.

Hoje de manhã, eu ainda estava de pijamas, toda descabelada. E Rodrigo achou um pente. Foi então que ele teve uma idéia super carinhosa: - Vem aqui, mamãe, que eu vou pentear o seu cabelo de monstro.

Bem penteada, fiquei um pouquinho menos monstra.


Imagem: http://www.weno.com.br/blog/archives/2007_02.html

28 de maio de 2008

Ontem, eu estava lavando os tênis do Rô. Ele viu e pediu para me ajudar, já trazendo a escada para perto do tanque.
Tudo bem. Aí ele começa a tentar abrir a torneira no máximo, e eu explicando que não podia, que gastava muita água, que ia inundar a casa porque o ralo estava tampado e tal.
Depois de uns minutinhos, ele se conformou. E aí começou a mexer na água, no sabão, a esfregar o chinelo. Tudo isso dizendo:
- Eu vou te ajudar, mamãe. Eu quero fazer igual você...
No meio de tudo, ele solta:
- Mamãe, estou adorando essa brincadeira.

27 de maio de 2008

Sabem o que eu adorava cantar para o Rodrigo quando ele era pequenininho? Uma versão nada a ver da música do Elefante-que-incomoda-muita-gente:

Um Rodriguinho faz muito bem pra gente;
dois Rodriguinhos já não faz tanto mais...
O que explica essa coisa tão estranha
é a lei dos rendimentos marginais...
Porque um Rodrigo já é suficiente,
porque um Rodrigo já nos satisfaz!

Agora, o que explica uma pessoa que põe conceito de microeconomia no meio da música pro filho?

Também tinha outra, que eu cantava durante a troca de fraldas, que era uma versão de Flor de ir embora (da Fátima Guedes):

Rô de bum-de-fora
É o Rô tão bonitinho que a mamãe adora...

E eu adoro brincar com as letras das músicas. Acho que foi muito gibi da Mônica quando eu era pequena...Quem se lembra da versão do Chico Bento para Disparada, do Geraldo Vandré?

Prepare seu carroção
pras coisa que eu vou botá
premero vai o leitão, premero vai o leitão...

Rio sozinha todas as vezes que me lembro.

11 de maio de 2008

Sobre pais e mães


Animada pelos sentimentos despertados pelos post sobre meu pai, a Renata escreveu lindamente lá no blog dela sobre o seu pai. E foram interessantes os comentários ao que ela escreveu, todo mundo se identificando um pouco - uns mais outros menos reconciliados com essas pessoas e esses personagens que podem ser tão decisivos (pro bem e pro mal) na vida da gente.

Me chamou a atenção um comentário em especial, que dizia ser uma importante descoberta essa de perceber que os homens da geração de nossos pais eram confusos, um pouco meninos e não sabiam bem o que fazer conosco.

Meu marido é um "tantinho" mais velho que eu (está mais próximo em idade e geração à minha mãe do que de mim). No dia em que nos conhecemos, conversamos longamente, ele me contando de sua separação, da falta que lhe faziam as filhas, do imenso esforço em não perder o convívio com elas...Essa certamente foi uma das coisas que me seduziram nele: essa clareza de não perder de vista seu papel de pai só porque o casamento tinha acabado.

Algumas vezes me peguei pensando quanta diferença fazia se separar há 20 anos (quando isso não era comum) e há 10. É pouco tempo, mas estamos separados por um abismo no que se refere às representações de família, casamento, indivíduo...

Separar-se - ou ser filho de pais separados - era um estigma, motivo de pena ou desculpa para maus comportamentos. Era razão para ser mandado para a terapia, para ser discriminado na escola... Ser separado era sinal de fracasso pessoal, da incapacidade de conciliar as diferenças ou egoísmo frente ao desamparo dos filhos. Era partindo dessa constatação que eu entendia, em parte, o comportamento do meu pai logo após a separação.

E por isso também a minha admiração pelo Edu era maior: eu achava que ele era muito moderno, muito cosmopolita nessa coisa de distinguir os papéis e saber manter-se perto; de não ter suportado a idéia de se afastar para "se resolver" com suas dores em nenhum momento. A Bia e a Jú sempre foram filhas dela e ponto. Sem dúvida; sem nem uma sombra de dúvida.

Mas vejam: isso não o torna menos desajeitado em seu amor por elas. Ele não tem nada de menino, é super adulto. Ele não se ausenta - pelo menos não fisicamente. Mas não sabe bem o que fazer com essas duas meninas (na verdade, hoje uma mulher e uma menina-moça), não sabe como chegar perto delas... Podem ser os ecos nipônicos em sua alma; podem ser os reflexos de geração: não sei bem se importa. O fato é que ele é desajeitado e provavelmente elas têm em relação a ele sentimentos tão ambíguos quanto o que nós temos por nossos pais - essa mistura de admiração e distanciamento, de amor e ódio, de aconchego e dureza.

Acho que as dores todas aparecem - em relação a pais, em relação a mães - porque a gente sempre espera (mesmo quando cresce e descobre que eles não são super heróis) que eles nos cuidem, que saibam o que fazer, que nos orientem, que nos protejam...A gente às vezes se relaciona com o papel, e não com a pessoa. Ou nos relacionamos com aquela imagem de pai e mãe que nos ficou da infância, com dificuldades de perceber que mudamos nós, mudaram eles.

Talvez seja por isso que eu aposto numa relação com o Rô que às vezes nem sei bem se é de mãe e filho. Somos nós dois, nos reconhecendo o tempo todo. Isso não significa deixar de cuidar dele, de mostrar a ele o certo e o errado, nem me recusar a oferecer a ele alguns contornos claros sobre o que é a vida. Significa sim um olhar atento, o reconhecimento junto com ele que de vez em quando erro, perco a cabeça, não sou perfeita, enfim. Mas estou aqui, com ele, pro que der e vier.

É tão difícil. O mais comum é se sentir desajeitado diante dos outros, tanto mais diante dos seres pequeninos que nos amam, nos olham tão de perto e esperam de nós toda certeza do mundo. Nessas horas, é mais fácil ser um papel - nos aproximarmos do que imaginamos que são as mães, os pais, e agir como se soubéssemos exatamente o que estamos fazendo. Mesmo que na maior parte das vezes não saibamos. Mesmo que vira e mexe a gente se sinta tão criança quanto o filho que espera de nós uma resposta.

Tem jeito de não ser desajeitado quando a gente contém no corpo tanto amor?

Imagem: http://familias-online.blogspot.com/2007/05/famlia-ontem-hoje-amanh-sempre.html

12 de maio de 2008

Fome

Fim-de-semana intenso de visita às mães. No domingo, depois do almoço absurdamente delicioso que minha mãe fez, não resisti e fui cochilar. Quando acordei, me contaram que o Rodrigo disse:
-Estou com foooome...de mamãe!
E quando eu acordei, ele veio correndo e me deu um abraço apertado e um sorriso derrete-gelo.

Meu filho aprendeu a falar de falta. E de desejo.

10 de maio de 2008

A vida é tão bonita


"A vida é tão bonita, basta um beijo e a delicada engrenagem movimenta-se, Uma necessidade cósmica nos protege".

(Adélia Prado)

Foi outro dia, numa conversa com o Mauricio, que percebi: a minha gravidez e o parto do Rodrigo foram minha travessia, minha aprendizagem dos prazeres. Fico cada vez mais radical, no sentido de me aproximar cada vez mais das minhas raízes, do que de fato me faz sentir viva, com sangue/seiva correndo nas veias.

É como se uma porta tivesse sido aberta: talvez porque é difícil ser mãe sem se desdobrar, desdobraram-se em mim outras formas de ser mulher, de ser pessoa, de experimentar a vida, de ser corpo e de ser alma.

Acho que foi com o Rô que redescobri como a vida é bonita. Levando-o ao teatro, cantando canções antigas (como "Minha Canção", dos Saltimbancos) e descobrindo com ele canções novas (como "Só quero ver", do Palavra Cantada), contando para ele histórias que tanto significam para mim (como Chapeuzinho Amarelo, do Chico Buarque) e contando também histórias que passaram a significar para nós (como Raimundo e a Menor Banda do Mundo, do Sérgio Serrano).

É impressionante como a gente pode ir deixando de lado as coisas que ama - eu adoro teatro, literatura, música... Mas só quando o Rô nasceu é que me dei conta de que tinha largado mão de tantas coisas que tinham tanto a ver com quem sou, do que gosto.

Logo que ele nasceu e me olhou com seus olhos de curiosidade e reconhecimento e, depois disso, todas as vezes que ele me olha tentando entender o mundo, me vejo obrigada a reconhecer quem eu sou e o que é o mundo para mim.

Nas peças que íamos ver, eu ficava tão maravilhada quanto ele com as cenas, as delicadezas, as surpresas de cor e som. Nos shows - mesmo os em DVD, como do Palavra Cantada e da Adriana Partimpim - a gente ia descobrindo juntos um trechinho novo de música, uma cara nova, um instrumento novo. E as histórias, são sempre uma delícia, de tempos em tempos ele cisma com uma diferente e aí é um contar e recontar até ele mesmo ser capaz de reproduzir a história, com as minhas próprias caras e bocas, guardando melhor os trechos que para ele significam mais.

E a cada momento desses, eu sei: a vida é tão bonita.

Não tem nada a ver com uma negação da realidade, como no filme "A vida é bela"; não é preciso mascarar a realidade, nem enfeitá-la, nem torcê-la até que pareça que estamos vivendo no interior de uma ficção. Sem comerciais de margarina, please.

(Sou muito mais a franqueza da Dora, de Central do Brasil, dizendo pro menino que sua mãe não vai mais voltar).

Acho que é mais uma coisa meio drummondiana, tipo a flor que nasce no asfalto. O bonito é que mesmo em tanta dureza, feiúra, maldade, dor, nasçam flores. Nasça uma cena que arrepia; um texto que leva às lágrimas; uma música que transforma tudo o mais em silêncio; uma textura que surpreende e encanta. A vida é bonita porque nesse leve assombro que nos entreabre a boca, as margens da vida se ampliam um pouco e a esperança volta a ser possível.

Antes do Rodrigo, acho até que eu era feliz. Mas depois dele, sou muito mais intensa, muito mais corpo, muito mais alma, muito mais leonina: muito mais humana. Sofro mais, gozo mais. O açucar é mais doce e o sal mais salgado.

E eu adoro.

Imagem: Marc Chagall, Springtime in the meadow, 1961
Fonte: http://www.weinstein.com/chagall/marc-chagall.html

9 de maio de 2008

Hoje, só amanhã

E eu estou aqui às voltas com o texto de qualificação, num parto longo e demorado mas que já está bem adiantado...

Por isso hoje, ainda que tenha alguns assuntos sobre os quais gostaria de escrever, só amanhã.

Só conto rapidinho uma conversa com o Rodrigo, às 7h da manhã. No meio da madrugada, o bichinho tinhado ficado com frio e tinha pedido vir para a nossa cama (ele ainda perdeu o sono, ficou me cutucando até umas 5h30, mas deixa para lá...). Então, às 7h escuto uma vozinha meio sussurrada: "quero mamaaaar, quero mamaaaar".

Levantei, dei mamá para ele e, como sempre, quando acabou ele ficou jogado no meu colo, rindo muuuito. Mas em seguida pediu a chupeta (um dia conto a saga da chupeta, tanto das razões de termos dado, quanto da dificuldade em ajudá-lo a se livrar do vício).

- Quero a chupeeeta (ainda deitado no meu colo).
- Ah, Rô. Não. Pra que chupeta, vamos tomar café.
- Mas mãe, eu tô com fooome de chupeeeta.

Essa foi nova!

E na hora de ir para a escola, ele resolveu que ia:
  • - de papetes do homem-aranha, usadas com meia;
  • - de luvas
  • - com o chapéu de caubói que ganhou do pai.
Aliás, ontem o Edu voltou, enquanto ele estava na escola. Quando fomos buscá-lo, o Edu comentou com ele que tinha trazido "um presentinho pro Rodrigo". Tá. Aí, antes de voltar para a casa, fomos buscar a Júlia. Quando o Rô viu que não estávamos indo pra casa, soltou:

- Não! Não quero buscar a Júlia. Quero ir para casa, ver meu presentinho.

Interesseiro?

Aí agora só quer saber do chapéu. De manhã, quando me comunicou que iria levar o chapéu na escola, comentou:
- Vou levar na escola, esse chapéu que é da minha casinha, pra mostrar pro pessoal. Eu vou deixar a A. L. e o P.G. brincarem, tá mãe?

Ai, ai. E não tem nem três anos...

5 de maio de 2008

Matutinas

Eu e o Rodrigo no café da manhã, ele comendo roll de côco:

(Desde que o Rodrigo começou a comer que o café da manhã virou uma grande curtição. Faço questão de pôr a mesa, sentar, comer com calma. Ele canta, faz bagunça, suja o pijama, mas é tão gostoso roubar um bocadinho de tempo à correria do dia-a-dia...).

- Filho, o papai vai viajar e vamos ficar só nós dois uns dias.
- É mãe? O papai não vai ficar aqui com a gente?
- Não, filho. Vamos ficar só nós dois.
- E o bolinho de côco, né?

2 de maio de 2008

Sinceridade é tudo!

Hora do lanche, Rodrigo pedindo Coca-Cola:
- Quero Coca-Cola!
- Então espera que a Bia vai pegar outro copo.
Enquanto isso, Rodrigo fica fazendo bagunça com o copo de suco de soja que ele estava tomando. E eu digo para ele parar. Como ele não pára, aviso:
- Se você não parar agora, não vai tomar Coca-Cola. Um. Dois. Três. Não vai mais tomar.
Arrependido, ma non troppo:
- Desculpe, mamãe. Eu quero Coca-Cola.
- Mas você vai se comportar?
- Não.
Como disse a Júlia (a irmã do meio): Sinceridade é tudo.

30 de abril de 2008

Para encerrar o dia


Rodrigo ontem, às 7h da manhã, pruma mãe com dor de garganta e de nariz entupido:
- Olha, mãe, meu avental. Eu fiquei feliz quando eu ganhei este avental de passarinho.
- É, filho, é lindo esse avental.
- Mãe, eu vou lavar louça.
- ...
- Mãe, fecha aqui pra mim, o meu cinto de estrelinha.
- Pronto, filho, fechei.
- Mãe, cadê o papai e a mamãe do passarinho?
- Não sei filho.
- Ele está triste, mãe.
- Então vamos procurar o papai e a mamãe dele.
- Vamos!

***

Rodrigo ontem, recém chegado da escola.
- Mãe, quero ver Chiriro. Só um pouquiiiinho (mostrando com os dedinhos o pouquinho).
- Tá filho. Um pouquinho.
- Mãe, eu gosto da Chiriro. Eu não tenho mais medo.
- Que bom, né filho?
Depois de dois minutos de filme:
- Mãe, quero ver muuito (aumentando a distância dos dedinhos para fazer um muiiito).

***
Rodrigo hoje, saindo da escola, andando na viela. (A gente costuma parar o carro na rua de trás, para não muvucar demais a porta da escola e poder pegá-lo com tranquilidade).
- Olha, filho. Quem está aí na frente?
- É o P. G.!
- É mesmo, ele está com a mamãe dele.
- Ele é da escola.
- Como assim? E você não é da escola?
- Não. Eu sou da mamãe.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!

***

Rodrigo, assistindo Chiriro de novo e conversando com a Bia.
- Bia, vai aparecer um jacaré muito forte.
Era o dragão...

***

E hoje ele ganhou um presente: duas camisetas do homem-aranha (sério, gente, eu não aguentava mais a chateação dele quando a única que ele tinha estava lavando...).
Chegamos em casa e ele mais que depressa pediu para vestir uma.
Aí estava sentado, com a camiseta nova, comendo um pedaço de bolo de cenoura.
- Mamãe, eu estou feliz.
Beijos, beijos e mais beijos da mamãe na criatura.

29 de abril de 2008

As expressões do amor

Meu sangue de pesquisadora não me abandonou nem mesmo durante a gravidez: eu queria saber tudo, conhecer tudo, me preparar da melhor maneira. E foi nessas pesquisas que conheci os carregadores de pano, os slings.

Conheci primeiro os da Bettina, lá do sul. Achei tudo lindo e fiquei animada com a perspectiva de carregar o filhote daquele jeito. Mas o tempo foi voando, o Rodrigo resolveu nascer 3 semanas antes do previsto e eu até ia me esquecendo do tal do sling...

Mas como a necessidade é a melhor amiga das boas idéias, quando o Rô estava com cerca de um mês e eu super cansada, sem conseguir sair de casa (as ruas aqui perto são intransitáveis com carrinhos...), lembrei do sling. E corri procurar uma alternativa mais próxima de SP (leia-se: mais rápida e portanto mais adequada à minha situação de desespero).

Foi então que encontrei a Analy (que naquela época tinha o www.babywearing.com.br) e encomendei um sling, nem me lembro mais de que cor era. Ela ainda havia me prevenido que era melhor ver os tecidos ao vivo...Quando chegamos à slingada, me apaixonei pelo sling vermelho - e o Rodrigo também gostou da novidade. Ficou quietinho, com uns olhões bem abertos prestando atenção em tudo.

(Foi por meio da Analy que eu conheci a Materna e tenho certeza que essa rede de mulheres e mães maravilhosas foi fundamental para a minha experiência de ser mãe. As experiências partilhadas põem em xeque modelos estabelecidos, ampliam o repertório e abrem espaço para que a maternidade seja exercida a partir de um olhar atento aos nossos queridos filhotes - como são, e não como gostaríamos que eles fossem).

Bom. Daí que nunca mais paramos de andar de sling, né? Rodrigo estava com cólicas? Era colocá-lo sentado no sling, que tudo se resolvia; o problema era agitação? lá ia o menino para o sling passear pelo bairro; a mãe é que estava estressada? passeio na gente que em meia quadra caminhada tudo ficava mais tranqüilo... O Edu também adorava caminhar com o serzinho penduradinho.

Quando ele começou a comer frutas, íamos ao CEASA e o Rodrigo era a sensação dos vendedores. Vez em quando aparecia alguém para perguntar se ele não estava apertado, machucado etc. Mas em geral as pessoas se encantavam. Porque a segurança que o Rô sentia transparecia na carinha dele, na simpatia para com as pessoas...Pena que não temos foto dele sentado no sling, feliz da vida, comendo melancia (ou banana ou pêra ou mexerica já que ele ganhava pedaço de tudo quanto era fruta).

Ele está pesado para usar o sling agora. Mas isso não significa que tenhamos deixado de carregá-lo. Porque quando as costas começaram a reclamar, compramos um mei-tai (que está na foto). Cansei de fazer comida com ele amarrado nas costas. Às vezes ele estava com sono, mas não queria dormir, então eu o colocava nas costas e, mal começava a cozinhar, ele já estava dormindo.

Hoje usamos mais para passear e mais na frente (ele diz que tem medo de cair das costas). O fato é que ainda é muito gostoso carregá-lo pertinho de mim. No mei-tai, parece que estamos num abraço sem pressa e sem fim. Ele se aconchega e só vai curtindo a paisagem.

Não acho que colo e carinho des-eduquem ou deixem mal acostumado. Não mesmo. As crianças têm necessidades diferentes e o Rô desde pequeno exigia muito contato físico e proximidade com a gente. Se não fosse o sling, acho que teríamos pirado. O sling, assim, tornou possível dar a ele toda a proximidade que ele pedia sem que para isso tivéssemos que abrir mão de tudo e focar apenas nele. Porque a atenção de que ele precisava não tinha a ver com o olhar, o falar...Tinha a ver com pele, com o cheiro, com os ritmos do corpo.

Numa viagem para Londrina, perdemos o sling vermelho. Fiquei tão triste. Porque era um pano que embalara sonos, sonhos, descobertas e é como se parte dos primeiros anos do Rô tivesse ficado impresso nele, nas marcas, manchas e cheiros.

Fazer o quê? O mais importante, acredito, está impresso na memória e no corpo do Rodrigo. Um lugar-tempo de conforto ao qual ele sempre poderá voltar durante a vida.

25 de abril de 2008

Estrelas da manhã

Rodrigo acordou às 7h e me chamou. Fui lá falar com ele, que estava ainda meio com preguiça, me viu, pegou o Amigão e se esparramou na cama.
Quando finalmente despertou, pediu para tirar o macacão-cobertor que vai por cima de tudo. E se espantou com as meias.

- Olha, mamãe. A minha meia. São iguais.
- É filho, um par.
- Tem estrelinhas.
- É mesmo, Rô.
- A sua não tem estrelinhas.
- Não, filho. A minha não tem.
- Quando você crescer, você vai poder ter meias de estrelinha, mãe.
Oba! Não vejo a hora...

E para a sexta-feira ser bonita, uma canção deliciosa do Luiz Vieira, Prelúdio para ninar gente grande. Beijos e bom fim de semana!

Quando estou
nos braços teus,
sinto o mundo
bocejar...
Quando estás nos braços meus,
sinto a vida descansar.
No calor do teu carinho
sou menino-passarinho
com vontade de voar...
Sou menino-passarinho
com vontade de voar.

23 de abril de 2008

Breves

Quando, depois de muitos anos, conseguimos reunir uma trupe de mulheres muito queridas e especiais para uma noite de curtição, não podia dar outra: a terra tremeu.

***
E é claro que prevendo que a mãe ia sair, Rodrigo se fez de esperto, chegou da escola dormindo e quando cheguei em casa, tchã-ram! Encontrei o Edu caindo de sono e o Rodrigo de pijama, animadíssimo brincando de jogo de tabuleiro (leia-se: espalhando as peças do jogo de tabuleiro pela sala).

***
E às 6h30 da manhã (reparem que fomos dormir quase à 1h), Rodrigo acorda. Aí começa a conversar comigo, que sugiro a ele que vá para a sala ver filme (leia-se: deixe a mamãe dormir mais um pouco). Então segue-se o diálogo:
- Vai ver um filme na sala, Rô.
- Não.
- Você não quer ver filme?
- Não, mamãe. Eu vou mamar ainda.
- É?
- Eu vou mamar ainda, antes de ver filme.
E assim foi. Mamou e foi todo contente para a sala ver "o filme da lampadinha" (lembram daquele curta da Pixar?). E eu que estava achando que depois da estomatite o menino ia desencanar de mamar...

***
E já que é de "breves" que se trata, fica a dica do Porta Curtas Petrobras, onde é possível encontrar uma porção de coisas bacanas. A visualização é meio ruim (ou eu é que não sei fazer direito), mas o repertório é bem legal.

21 de abril de 2008

A paixão de conhecer o mundo


Feriados prolongados com chuva, frio e criança pequena podem ser bem cansativos. Ainda mais se a criança em questão saiu de uma doença chatinha que a deixou cheia de açucar e mimos...
Mas por outro lado, essa convivência mais intensiva é tão gostosa. Especialmente porque dá para acompanhar nas coisas mais pequenininhas o quanto o está crescendo.

O título do post é o nome de um livro da Madalena Freire. Eu li pela primeira vez há mais de doze anos, enquanto fazia magistério, e fiquei encantada. Para mim, moça do interior, que lidava com uma realidade completamente diferente nos meus estágios, foi uma grande alegria conhecer de maneira tão concreta outra maneira de educar, ainda mais crianças tão pequeninas.
E o termo que ela usa "paixão de conhecer o mundo" ficou sendo para mim o jeito mais preciso de dizer da relação com o conhecimento que uma escola deveria ser capaz de despertar em seus alunos.

O tempo passou e eu nunca cheguei a trabalhar com educação infantil. Logo que tinha terminado o magistério, não me sentia nem um pouco segura para trabalhar com criança pequena, mesmo tendo certeza que eles aprendem "apesar" da gente. Para mim, esses momentos tão fundamentais (As Etapas Decisivas da Infância, de que fala a Françoise Dolto) tinham que ser vividos junto a professores mais experientes e não junto a uma moleca de 18 anos, sem maturidade, sem repertório...

Mas a vida dá voltas e quando já estava quase terminando a faculdade, o primeiro trabalho que fui fazer foi de educação - educação no trabalho, com cooperados de uma cooperativa cheia de ambigüidades, num intenso processo vivido com mais 7 pessoas maravilhosas e sob supervisão da Fátima Freire Dowbor. Daquelas experiências transformadoras, que certamente ecoa até hoje na minha prática e reflexão. E uma experiência que também me ajudou a refazer meus laços com a educação, com essa responsabilidade tão imensa de conduzir um processo junto com um grupo de pessoas (crianças ou não).

Depois que o Rodrigo nasceu, passei para o outro lado da escola - não mais como educadora, mas como mãe. O Rodrigo ficou em um berçário dos quatro meses até pouco mais de um ano. Quando ele começou a se mover, a compreender melhor as coisas, resolvemos mudá-lo de escola. O berçário em que ele estava tinha umas coisas - comuns em grande parte das escolas infantis, mas que mesmo assim - me incomodavam. As principais eram deixar que as crianças chamassem as professoras de tia e colocar Xuxa para as crianças ouvirem. O Edu diz que é chatice minha, mas eu lia essas coisas como indicadores de que se tratava de uma prática sem reflexão. E como raios prática sem reflexão poderia levar à paixão de conhecer o mundo?

Procuramos algumas escolas e, por sorte, encontramos uma bem pertinho, que tinha um espaço amplo e gostoso e profissionais bem preparados. Foi a melhor coisa que fizemos, mudar o para essa escola.

No ano passado, que o estava no G1, a gente já percebia como o gostava e se encantava com as coisas que ia aprendendo. Tão pequenininho e ele se envolvia com os temas, as histórias, as brincadeiras...E esse ano, em que ele já fala pelos cotovelos, dá para perceber como o experimentar nessa fase se liga à imitação, ao esforço de compreender as sensações do outro, os significados do que se diz e como se diz. Acho um barato.

Porque de um lado tem essa descoberta das sensações e sentimentos - e aí o trabalho nosso e da escola de ajudá-lo a nomear essas coisas - e tem a descoberta do próprio mundo - as músicas, brincadeiras, bichos, livros, linguagens. É tão bacana. Em vários momentos me pego boquiaberta diante desse olhar curioso que ele tem para a vida. É claro que é coisa de criança, mas para mim também é clara a influência que a escola e as pessoas que nela estão tem para a maneira com que isso se expressa. Olho pro e sinto que ele é livre, que ele já tem algumas ferramentas para se colocar no mundo: ele já está no mundo. E me leva pela mão com ele, para eu ensiná-lo, para ele me ensinar.

O que mais pode querer uma mãe?

Fonte da imagem: http://jardimdaalegria.blogspot.com/2007/03/educao-infantil-artes-pequenos-artistas.html

Aviso

Numa fúria de organização-de-armários, vou trazer alguns posts sobre o Rodrigo que fui publicando no meu Noturnos Imperfeitos para cá.