sábado, 24 de janeiro de 2009

Começo


Sua história, filho, começou bem antes de você nascer. Começou no meio do mês de fevereiro de 2005, quando o papai plantou uma sementinha de Rodrigo na barriga da mamãe. Com todo carinho e uma porção de esperanças, a mamãe ficou alimentando essa sementinha, enquanto o papai cuidava de nós dois. No começo você era menor do que um grão de arroz, e por isso a gente te chamava de Gohan.

Enquanto você crescia, minha barriga também aumentava, até virar um barrigão: a mamãe estava preparando você, um serzinho desde sempre querido.

A mamãe comia direitinho, que era para você crescer forte. E a gente ia na hidroginástica, que você adorava: era só eu entrar na água para você começar a pular contente dentro da minha barriga! E todas as noites a mamãe cantava uma música para você dormir: "dorme a cidade, resta um coração, misterioso, faz uma canção, soletra um verso, lá na melodia, singelamente, dolorosamente...". Reconheceu?

E depois, quando você saiu da minha barriga, acho que você reconheceu a minha voz, pois enquanto eu te olhava, admirada de ver quão lindo você era, você me olhava de volta, curioso, como a perguntar: "Então era você que tagarelava sem parar?".

Naquele dia 13 de outubro, às 10 horas da noite, você saiu da minha barriga para curtir o meu colinho e o banho que o papai te deu. E era muito estranho: porque eu já te conhecia, mesmo que fizesse tão pouquinho tempo desde que tinha te visto a primeira vez. Por oito meses e meio a gente vivia grudadinho, afinal. E quando eu te via espreguiçar, eu entendia porque a minha barriga às vezes embolava de um lado só. Dentro ou fora de mim, você era esse ser a quem, na imensidão do amor*, chamamos de Rodrigo. Prazer em te conhecer, filho.



* "Nomes das coisas", André Abujamra

Imagem: www.gettyimages.com

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