sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Querido filho Rodrigo,

desde seu nascimento que as mensagens de final de ano passaram a ter você como interlocutor privilegiado, como se no momento de "fechar para balanço" e celebrar a renovação das esperanças, me coubesse - como sua mãe - tentar organizar o que aprendemos juntos no ano que passou.

Este ano foi bastante intenso, cheio de desafios mas também conquistas. No primeiro semestre, a família toda finalmente se livrou da tese que, embora de minha responsabilidade, mobilizava todo mundo. Em julho, pela primeira vez em toda a sua vida, você ficou de férias com uma mãe que não tinha mais um relógio correndo por dentro! E no segundo semestre teve a defesa, teve o lançamento do livro e - nos espaços que o fim do doutorado abriu - teve muito softie sonhado e costurado, teve bolsinhas costuradas à mão, brincadeiras de massinha, cartas e cartões, muito colo, filminho e pipoca, teve fazer cookies para dar de presente, teve pesca com seu pai... Teve encontro e reencontro, sem pressa: como se finalmente os pés reaprendessem a dureza e a maciez de pisar o chão.

Também foi ano pleno de companhias. Mais próximas ou mais à distância, é difícil explicar o quanto houve amparo e mãos dadas no meio do furacão. Você também me deu a mão, filho: não sei se cedo demais ou se na hora certa, mas aprendeu que adultos também se perdem e têm dúvidas, e me deu de presente seu carinho e sua presença, verdadeiras âncoras para que as tempestades não me levassem pra muito longe.

Observação óbvia, você cresceu muito neste ano. E acho que todos nós crescemos junto com você, filho. Suas perguntas, seus desconcertos, seu estranhamento frente a este mundo ao qual já quase nos acostumamos são preciosos e os ajudam a descobrir novos significados para essa coisa de estar vivo. Nas suas alegrias, e também nas suas tristezas.

Como em nossa recente experiência com a perda. Mal chegamos de viagem e descobrimos que nossos pequeninos gerbis, a Thelma e a Louise, tinham morrido. Não sabemos como, nem porquê, e a falta de explicação só reforçou nosso desconcerto diante de um sono profundo demais do qual não pudemos acordá-las. Choramos juntos, por nossas pequeninas companheiras, e talvez eu tenha chorado também por ter que te ensinar tão cedo a se despedir, dessas despedidas definitivas.

Juntos, demos nosso tchau pra elas, agradecemos por tê-las em nossa vida por tanto tempo, avisamos que iremos sentir saudade. E o que mais achei bonito na sua dor foi sua coragem em enfrentá-la, em não se distrair dela, em chorar, peguntar, enunciar a saudade e a tristeza na falta do que você chamou de "suas companhias". É doído sim, filho, mas é tão bom ter afetos, não? Tão bom ter amigos queridos cuja presença no mundo nos conforta, e de quem sentimos falta. Tão bom não andar indiferente e poder ser afetado por presenças ou ausências...

Que no ano que começa, filho, a gente possa continuar caminhando de mãos dadas e prestando atenção aos caminhos que escolhemos.

Muitos beijos,

mamãe.

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