Na hora do jantar, você comendo pela segunda vez e tagarelando sem parar. Entre uma bocada de cuzcuz e um gole de suco de laranja, confidencia a mim e ao seu pai:
- sabe, tem umas palavras dentro da minha cabeça que ficam falando sem parar.
Seu pai, encantado com a beleza do dito, explica:
- são pensamentos, Rodrigo.
Eu, mais curiosa, não me aguento:
- e o que as palavras dizem, filho?
- blábláblábláblá... Você desvia, espertamente me colocando no meu lugar.
Você nos conta que os pensamentos são muitos, como formigas em formigueiro, zunindo como mosquitos. E depois ainda pergunta:
- e o que são memórias?
- sabe, tem umas palavras dentro da minha cabeça que ficam falando sem parar.
Seu pai, encantado com a beleza do dito, explica:
- são pensamentos, Rodrigo.
Eu, mais curiosa, não me aguento:
- e o que as palavras dizem, filho?
- blábláblábláblá... Você desvia, espertamente me colocando no meu lugar.
Você nos conta que os pensamentos são muitos, como formigas em formigueiro, zunindo como mosquitos. E depois ainda pergunta:
- e o que são memórias?
- são palavras na cabeça que vêm de longe, do que já aconteceu, Rodrigo. mas nem sempre só palavras - às vezes são cheiros ou sentires.
O prato quase vazio, a mesa cheia de pedacinhos de cuzcuz e finalmente nos abandonamos ao silêncio. Dentro das nossas cabeças, porém, um zunido de pensamentos e (novas) memórias. À hora cotidiana do jantar, a imensa surpresa de reconhecer você, tão crescido e inteiro.