sábado, 31 de outubro de 2009

Logo de manhã...

Eu arrumando a cama e Rodrigo me rodeando. Aí ele resolve deitar na cama que mal acabei de arrumar e peço:

- Filho, dá licença! Quero arrumar logo essa cama pra gente poder sair e chegar na loja antes que a rua encha...

- A lua encha?

- Não, Rô: a ru-a. Se fosse na lua, não tinha pressa, porque a lua é deserta.

- É, mãe? a lua é deserta? Lá tem camelo e pessoa?

Essas crianças são tão literais!!!

O que me lembra de quando falei para o Rô que ele ia ficar na vovó porque eu e o papai íamos ao lançamento do meu livro e ele arregalou os olhos e perguntou: "Lançamento? Você vai pegar o livro assim e jogar ele lá longe?" ;-)

Já imaginou, que perigo ir a um lançamento de livros desse tipo?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Rodrigo ontem, no jantar, comendo salsicha de frango:

- Come, mamãe. Pega uma salsicha pra você.

- Obrigada, filho. Eu não gosto.

- Não, mãe? Você não come salsicha?

- Não, filho.

Ele me olha, um tanto consternado e comenta:

- Você come brócolis, né?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mais sobre a torta

Torta pronta, vamos comer!

Tiro a torta do forno e começo a cortar os pedaços. Comento:
- Puxa, Rô. A torta ficou sequinha, fez até casquinha.

Ao que Rodrigo comenta:
- É, mãe? Puxa! Será que ela tinha se machucado?

Atavismos

Rodrigo e eu preparando uma torta para a hora do almoço. Depois de tudo pronto, acendo o forno e anuncio:

- Agora, é só esperar a torta ficar pronta!

Rodrigo abre os olhos espantados e confirma:

- Esperar ela ficar tonta?

Boa estratégia, né? Para comer a comida, nada melhor do que cansá-la ou deixá-la tonta ;-)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Drummondiando

No caminho da escola, já não são mais as cores plenamente floridas que atraem sua atenção. Seu olhar se encanta é com os detalhes da vida que brota nas brechas, na sombra das árvores, nas rachaduras do asfalto. Na monotonia verde desses achados, você adivinha o esforço da vida que nasce no lugar mais improvável. É um espanto mesmo, filho, encontrar vida onde menos se espera. E uma delícia compartilhar as descobertas dos teus olhos de pesquisa.

me surpreendo olhando
com teus olhos de pesquisa
e o que vejo
vira beleza
(Alice Ruiz)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quatro anos


Meu filho, querido

você já faz quatro anos! Quatro anos que passaram rápida e lentamente. Rapidamente porque, mal piscamos, e você já está assim: grande, esperto, falante e pensante; um transbordamento de pernas compridas, que escorrem de dentro do nosso colo na busca do chão. Lentamente porque, apesar de tudo, houve tempo para te acolher, para chamegar, para rir de cada graça nova que você fazia (e continua fazendo), de cada passo novo, de cada descoberta que você fez enquanto sua vida se resumia a estar em casa. Sou grata por isso, filho, por você ter cavado dentro de mim esses espaços de intenso presente.

Você cresceu tanto, que agora é uma pessoa inteiramente diversa de mim e do seu pai. Tem sua vida, seus pensamentos, seus amigos, seus segredos. E é tão gostoso (ainda que de vez em quando quase nos enlouqueça!) que você venha compartilhar uma parte de si conosco. Você conta, fala, canta, briga, conversa do momento em que acorda à hora de ir dormir. Não tem botão de desliga, filho, você quer devorar o mundo com sua curiosidade e a nós não resta senão te dar a mão.

Meu olhar pra você é de lente bifocal. Às vezes me assusto com o quanto você está grande, e estranho a ideia mesma de que um dia você já esteve dentro de mim; é que é incrível e milagroso, filho, e tudo o que posso fazer é me espantar e agradecer. Outras vezes, porém, te vejo como o pequenino que você ainda é, e meu coração se enche de ternura ao surpreender no menino esperto e independente, o Rodrigo que conheço desde antes de nascer.

Te conto histórias da barriga e de seu tempo de bebê, e você escuta com atenção, sorrindo e se divertindo com o tanto que cresceu. Não é só com saudade que te conto essas histórias; é para compartilhar contigo a alegria de te ver crescer; para que você saiba de onde veio, para que você tenha os fios para tecer a narrativa da sua vida.

Hoje você faz quatro anos. Quatro anos de uma mistura de sensações e emoções, de medo e de alegria, de sustos e descobertas, de todo modo, sempre intensas. Você tem tanta vida, filho, tanta vida que me obriga também a vivê-la de outras maneiras.

Parabéns, meu menino!

Beijocas na ponta do nariz.